Por trás de toda grande história fictícia, há um pano de fundo da verdade. No caso de ‘Sonhos Roubados’ (Brasil, 2010), há uma história muito crua por trás disso. É sobre a vida de Maria Duarte, uma prostituta de Aracaju, que depois de abandonada pelos pais quando era bebê, teve que ser criada inteiramente em um orfanato. Ao atingir a maioridade, ela decidiu com dois de suas companheiras de orfanato começar sua própria vida.
Na tentativa de integrar-se a uma sociedade empenhada em marginalizá-la, Duarte precisa sobreviver, cometendo pequenos furtos ou se prostituindo por muito pouco dinheiro. Seu desejo de se divertir e recuperar o tempo perdido o leva a entrar em um mundo de drogas e álcool que, depois, acabam afundando ainda mais.
Eliane Trindade, a periodista que descubriu a história
A responsável por trazer essa história à luz foi a jornalista Eliane Trindade, que acompanhou a vida de Maria durante vários meses em que viveu em Aracaju e depois revogou todas as informações coletadas em seu livro “As meninas da esquina – diários dos sonhos, dores e aventuras de seis adolescentes do Brasil”, que acabariam sendo adaptados mais tarde no bem-sucedido longa Sonhos Roubados.
Eliane Trindade diz que, quando começou a investigar, procurava exatamente essa história. Ela desejava poder mostrar a realidade da prostituição, em um mundo em que a grande maioria das mulheres envolvidas como trabalhadoras do sexo o faz por pura necessidade e porque não conhece outra maneira de obter renda.
A pobreza em sua máxima expressão
A história de Maria Duarte é um verdadeiro reflexo do desespero de pessoas que não têm absolutamente nada, e é uma crítica não apenas à população de Aracaju, mas aos brasileiros em geral e como a sociedade não permite que as pessoas mais desfavorecidas se submetam a essa situação e como, em muitas ocasiões, os pais são os grandes culpados pelos filhos que acabam entrando para o mundo da prostituição.
O que dá mais para pensar sobre a história de Duarte é seu espírito de autoaperfeiçoamento, seu desejo de viver uma vida alegre e feliz, se divertindo com seus amigos, apesar de quão difícil a vida se apresenta repetidamente, e isso foi precisamente a essência que Sandra Werneck queria transmitir em um filme que venceu o Festival do Rio de 2009 e que coroou Nanda Costa na categoria de melhor atriz.
O que não conta Sonhos Roubados sobre o paradeiro de Maria Duarte
Por mais crua que a história contada em Sonhos Roubados possa nos parecer, a realidade era muito mais cruel e macabra para Maria Duarte. As únicas duas pessoas em sua vida que ela poderia chamar de amigos acabaram deixando a prostituição e se casando com homens ricos que lhes permitiram resolver suas vidas.
Maria, por outro lado, permaneceu absolutamente sozinha, deprimida e consumida em uma espiral de drogas e álcool. Ela foi encontrada morta meses após o lançamento do livro, aumentando automaticamente a importância do trabalho de Eliane Trindade. No final, resta apenas fazer uma pergunta a si mesmo: a sociedade brasileira poderia ter feito mais para mudar o curso das coisas?
