O auto da Compadecida, obra-prima de Suassuna

O Auto da Compadecida pode ser divido em duas partes. A primeira se passa no mundo terrenal e a segunda num julgamento celestial. O protagonista João Grilo, descrito como analfabeto pobre e “amarelo” conta sempre com a sua astucia para poder sobreviver no Sertão.

A imaginação e a intuição são as suas principais armas para poder enfrentar a sociedade brutal e muito hostil do nordeste brasileiro. Ao seu lado está Chicó, companheiro incansável nos diálogos. É normal de vê-lo envolvido nos planos equivocados de João grilo, mais por solidariedade que por convicção própria.

Através da experiência de ambos, conhecemos uma série de personagens que o autor pretende criticar. Como por exemplo, o dono da padaria que João trabalha e que explora sem compaixão aos seus funcionários. Também a sua mulher que comete o adultério e mostra mais ternura e compaixão com os animais que com as pessoas, entre muitas outras figuras pitorescas representadas de uma forma muito inteligente e divertida.

Elementos e particularidades culturais do filme

A temática do Sertão na literatura brasileira criou um subgênero dentro da literatura regionalista, conhecidos então como: sentranejista ou sertaneja. De maneira geral, a literatura sertaneja se refere a um certo marco de referência delineado em sua geografia, paisagem e sociedade.

Em algumas narrações é possível perceber alguns costumes ruraise que contam com o folclore e as crenças locais como temas recorrentes. Também a linguagem dos personagens se regionaliza ao adotar formas populares e específicas da região. A literatura regionalista é muito bem expressada na versão cinematográfica da obra de Suassuna, com personagens muito bem interpretados e caracterizados.

Resenha do Auto da Compadecida

A trama do filme trata das aventuras do inteligente João grilo e Chicó como o mais covarde dos homens. Ambos lutam pela comida do dia a dia em uma representação contundente da vida dos pobres da caatinga do nordeste brasileiro, nos princípios dos anos 1930.

Chicó e João Grilo vivem próximo da cidade de Taperoá na paraíba e conseguem um trabalho na padaria da cidade onde vivem o padeiro Eurico e sua esposa Dora, que vive praticando o adultério. Os patrões cuidam melhor do seu cachorro que de seus empregados, oferecendo comida em mau estado para Chicó e João Grilo, enquanto a sua cadela comia um bife na manteiga.

A Cidade então é atacada por uma ordem de cangaceiros. João Grilo e Chicó são atrapados por Severino, o líder dos cangaceiros. João acaba tentando enganar Severino com uma gaita, que segundo ele, quando é tocada pode trazer os mortos a vida. Mas depois de ter seu plano falido, João Grilo acaba morto, nos braços do seu amigo Chicó dando início a segunda parte da história.

Depois de morto o filme mostra como seria a realidade depois da vida terrenal, segundo a crença cristã, em um cenário caracterizado pelo julgamento final. Antes de decidir o destino final de cada alma. Sendo uma das cenas mais esperadas da obra de Suassuna por tratar de elementos reais da cultura nordestina daquela época.

Língua e linguagem particulares do nordeste

O Auto da Compadecida se articula como uma soma de diálogos, normalmente, breves e ágeis. O encanto da peça se constrói a partir da simplicidade dos recursos empregados e em uma certa ingenuidade que está conectada com o espírito popular da qual a obra se inspira. As vozes dos personagens reproduzem a linguagem característica do Sertão com todos os seus giros e particularidades para construir um dialogo que se alterna entre jogos de palavras, fórmulas pseudo-religiosas e provérbios.

Um discurso eminentemente teatral, vivo, colorido e descritivo, popular sem ser vulgar e paradoxalmente literário. Em definitiva, Suassuna cria a ilusão da língua oral e, nesse sentido, podemos fazer alusão aos personagens de Gil Vicente, em cujas vozes encontramos expressões, as vezes cruas e pitorescas.

Quem foi Ariano Suassuna?

Dramaturgo e escritor brasileiro, Ariano Suassuna teve uma de suas obras-primas adaptada para a televisão e o cinema brasileiro. Teve uma grande repercussão mundial por tratar de temas tão delicados de uma forma tão crua e acertada.

Ademas de escritor renomado, Ariano foi professor e idealizador do movimento Armorial que visa valorizar as artes populares. Dessa maneira ele viabilizou a emersão de novos artistas contemporâneos brasileiros.

Ele também foi uma dos ocupantes da cadeira nº 32 na Academia Brasileira de Letras eleito em 1989. Também foi membro tanto da academia Pernambucana de Letras e da Academia Paraibana de Letras.

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